Ovacionada por jovens, artistas e autoridades em cerimônia no Palácio do Planalto, presidente sanciona Estatuto da Juventude, que tramita há nove anos no Congresso, e promete ser "só um começo" na conquista de direitos sociais para esse público; texto é uma declaração de direitos da população jovem do País, hoje com cerca de 51 milhões de pessoas; segundo Dilma, maior questão a ser enfrentada é a "violência contra a juventude negra e pobre"; para Severine Macedo, Secretária Nacional de Juventude, "esta é uma conquista de várias gerações"; governo dá mais uma resposta às ruas
247 - Em mais uma resposta às manifestações populares, a
presidente Dilma Rousseff sancionou, na tarde desta segunda-feira 5, em
cerimônia no Palácio do Planalto, o Estatuto da Juventude, uma declaração de
direitos da população jovem, que atualmente alcança cerca de 51 milhões de
brasileiros com idade entre 15 e 29 anos, o maior número de jovens registrado
na história do Brasil. Alguns trechos do texto foram vetados, no entanto, a
Presidência da República ainda não divulgou os pontos retirados.
A cerimônia contou com a participação de diversas
autoridades, como o vice-presidente, Michel Temer, o presidente do Senado,
Renan Calheiros (PMDB-AL), e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN), além do ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da
Presidência. Esteve presente ainda a relatora do projeto na Câmara, a deputada
Manuela D´Ávila (PCdoB-RS), artistas, como a atriz Beatriz Segall, o ator Érico
Brás e o cantor e compositor Gog.
De acordo com a presidente, que foi ovacionada pelo público,
"este Estatuto é só um começo", uma vez que os direitos sociais dessa
população "não vão retroceder". "A partir de agora, teremos que
aprofundar esses direitos", discursou. Dilma disse que os jovens
"contribuem com a ampliação da democracia" e garantiu que o governo
estará "cada vez mais conectado, não só com as ruas, mas com as redes
também". Segundo ela, é preciso construir "um Brasil à altura dos
jovens brasileiros".
A presidente voltou a falar sobre a importância de uma
reforma política, em prol da "melhoria e do aperfeiçoamento do sistema
político" do País. Ela também falou que propôs um plebiscito sobre o tema,
pois considera que "consultar o povo nunca é demais". Outro ponto
abordado em seu discurso foi a necessidade de se combater a corrupção. A
presidente lembrou a sanção, na semana passada, da lei que endurece a punição
para corruptores. "Não podemos nos descuidar do combate aos corruptores",
afirmou.
Dilma disse considerar "uma das questões mais
graves" pela qual passa a juventude brasileira a "violência contra a
juventude negra e pobre". "Essa talvez seja a questão mais grave que
a juventude brasileira passa. Porque ela mostra um lado da nossa sociedade que
não podemos conviver pacificamente com ele. Temos de ter um pacto, temos de
construí-lo dentro desse novo Estatuto da Juventude", disse a presidente.
Para isso, concluiu: "Eu conto com vocês, vocês podem contar comigo".
O Estatuto
O Estatuto da Juventude foi aprovado pelo Congresso Nacional
em 9 de julho, após mais de nove anos de tramitação. O texto define os
princípios e diretrizes para o fortalecimento e a organização das políticas de
juventude, em âmbito federal, estadual e municipal. Isso significa que estas
políticas se tornam prerrogativas do Estado e não só de governos.
A partir de agora serão obrigatórios a criação de espaços
para ouvir a juventude, estimulando sua participação nos processos decisórios,
com a criação dos conselhos estaduais e municipais de Juventude.
O texto faz com que novos direitos sejam assegurados pela
legislação, como os direitos à participação social, ao território, à livre
orientação sexual e à sustentabilidade. Durante a cerimônia de sanção, a
presidenta também assinou o decreto de criação do Comitê Interministerial da
Política de Juventude.
Para a presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE),
Vic Barros, o Estatuto da Juventude representa o "aprofundamento da
democracia por integrar de forma protagonista a juventude na sociedade que
queremos". A sanção, segundo Vic Barros, dialoga com as "vozes que
foram para as ruas" nos meses de junho e julho.
Segundo o presidente do Conselho Nacional de Juventude,
Alessandro Belchior, os jovens têm feito da rua um "espaço privilegiado de
vivência", mas criticou a violência na repressão policial das manifestações
pelo país. "Agora as ruas pedem mais, mais direitos, mais liberdade e mais
democracia. Não conseguiremos materializar os direitos dos jovens sem falar nas
recentes e violentas repressões", disse Belchior. Para a Secretária
Nacional de Juventude, Severine Macedo, "esta é uma conquista de várias
gerações".
Dia histórico
Depois de nove anos de tramitação no Congresso Nacional, o
estatuto (PLC 98/2011) foi aprovado na Câmara dos Deputados no dia 9 de julho.
Já no Senado, o texto foi aprovado no dia 16 de abril.
Com a presença, nas galerias da Casa, de lideranças juvenis
de quase todos os partidos e artistas como a atriz Beatriz Segall, os senadores
definiram no voto os pontos que ainda se mantinham polêmicos na proposta: a
exclusão da meia-entrada nos jogos da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de
2016; a limitação de ingressos de meia-entrada em cada evento; e a oferta de
assentos gratuitos aos jovens de baixa renda no transporte interestadual.
"Conversamos muito, buscamos uma construção que
representasse a vontade da maioria. No que não foi possível ter consenso,
decidimos no voto, de forma democrática", afirmou o senador Paulo Paim
(PT-RS), autor do substitutivo votado em Plenário.
Depois da votação, os estudantes se reuniram em torno da
Mesa, levando o presidente Renan Calheiros a suspender a sessão para a
confraternização. Ao encerrar a sessão, Renan classificou o dia como
"histórico".
Para o senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), relator da
proposta na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), o estatuto
representa um "marco legal" na consolidação das políticas públicas
voltadas para a juventude, assegurando a visibilidade e a prioridade desse
público "tão heterogêneo e dinâmico quanto fundamental para o
desenvolvimento do país".
Com Agência Brasil e Senado
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